segunda-feira, 12 de março de 2012

Meditação Anciã

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Aqui eu fui feliz aqui fui terra
aqui fui tudo quanto em mim se encerra
aqui me senti bem aqui o vento veio
aqui gostei de gente e tive mãe
em cada árvore e até em cada folha
aqui enchi o peito e mesmo até desfeito
eu fui aquele que da vida vil se orgulha
Aqui fiquei em tudo aquilo em que passei
um avião um riso uns olhos uma luz
eu fui aqui aquilo tudo até a que me opus


Critica por: Tomás Salles


Ele expressa um lugar onde nasceu e ,viveu passou vários momentos agradáveis e menos bons e sobretudo porque consegui ser ele próprio e consegui superar mesmo aquilo que ele se opunha

Teoria da Presença de Deus


Somos seres olhados 
Quando os nossos braços ensaiarem um gesto 
fora do dia-a-dia ou não seguirem 
a marca deixada pelas rodas dos carros 
ao longo da vereda marginada de choupos 
na manhã inocente ou na complexa tarde 
repetiremos para nós próprios 
que somos seres olhados 


E haverá nos gestos que nos representam 
a unidade de uma nota de violoncelo 
E onde quer que estejamos será sempre um terraço 
a meia altura 
com os ao longe por muito tempo estudados 
perfis do monte mário ou de qualquer outro monte 
o melhor sítio para saber qualquer coisa da vida 

Critica por : Ricardo Santos

Não existe algo melhor para tirar as nossas duvidas, teorias ao fundo meditar do que um monte para tirar-mos o melhor proveito da vida.

A Minha Juventude


Na minha juventude antes de ter saído
da casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido
Chegava o mês de maio era tudo florido
o rolo das manhãs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida como se ela houvesse acontecido
E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer
Só sei que tinha o poder duma criança
entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível era só querer



Critica por: Ricardo Sobral


Neste poema Ruy Belo, pelo que ao ver era um grande sonhador, fala sobre a sua juventude, transmitindo os seus sentimentos e mostrando a sua maneira de como vê e interpreta o mundo, através dos livros que foi lendo ao longo da juventude.

Grandeza do Homen

Somos a grande ilha do silêncio de deus 
Chovam as estações soprem os ventos 
jamais hão-de passar das margens 
Caia mesmo uma bota cardada 
no grande reduto de deus e não conseguirá 
desvanecer a primitiva pegada 
É esta a grande humildade a pequena 
e pobre grandeza do homem 

Ruy Belo, in "Aquele Grande Rio Eufrates"



Critica por: Guilherme Menezes


A sua maneira de escrever é muito complexa, este poema fala como o homem não pode mudar aquilo que ficou para traz que o homem é muito humilde mas isso é a grandeza e ao mesmo tempo a grande pobreza porque não há nada que possa-mos fazer para alem disso.

POEMAS


Aquele Grande Rio Eufrates (1961)
O Problema da Habitação (1962)
Boca Bilingue (1966)
Homem de Palavra(s) (1969)
Transporte no Tempo (1973)
País Possível (1973)
A Margem da Alegria (1974)
Toda a Terra (1976)
Despeço-me da Terra da Alegria (1978).
Oh as casas as casas as casas(2001)

BIOGRAFIA

Poeta e ensaísta português, natural de São João da Ribeira, Rio Maior,nascido a 1933//1978. Licenciado em Filologia Românica e em Direito pela Universidade de Lisboa, obteve o grau de doutor em Direito Canónico pela Universidade Gregoriana de Roma, com uma tese intitulada «Ficção Literária e Censura Eclesiástica». Exerceu, ainda que brevemente, um cargo de director-adjunto no então ministério da Educação Nacional, mas o seu relacionamento com opositores ao regime da época, a participação na greve académica de 1962 e a sua candidatura a deputado, em 1969, pelas listas da Comissão Eleitural de Unidade Democrática, levaram a que as suas actividades fossem vigiadas e condicionadas. Ocupou, ainda, um lugar de leitor de Português na Universidade de Madrid (1971-1977). Regressado, então, a Portugal, foi-lhe recusada a possibilidade de leccionar na Faculdade de Letras de Lisboa, dando aulas na Escola Técnica do Cacém, no ensino nocturno. Em 1991 foi condecorado, a título póstumo, com o grau de Grande Oficial da Ordem Militar de Sant'iago da Espada. 
Tendo sido, na sua passagem pela imprensa, director literário da Editorial Aster e chefe de redacção da revista Rumo, os seus primeiros livros de poesia foram Aquele Grande Rio Eufrates (1961) e O Problema da Habitação (1962). Às colectâneas de ensaios Poesia Nova (1961) e Na Senda da Poesia (1969), seguiram-se obras cuja temática se prende ao religioso e ao metafísico, sob a forma de interrogações acerca da existência. É o caso de Boca Bilingue (1966), Homem de Palavras(s) (1969), País Possível (1973, antologia), Transporte no Tempo (1973), A Margem da Alegria (1974), Toda a Terra (1976) e Despeço-me da Terra da Alegria (1977). O versilibrismo dos seus poemas conjuga-se com um domínio das técnicas poéticas tradicionais. A sua obra, organizada em três volumes sob o título Obra Poética de Ruy Belo, em 1981, foi, entretanto, alvo de revisitação crítica, sendo considerada uma das obras cimeiras, apesar da brevidade da vida do poeta, da poesia portuguesa contemporânea. 
Apesar do curto período de actividade literária, Ruy Belo tornou-se um dos maiores poetas portugueses da segunda metade deste século, tendo as suas obras sido reeditadas diversas vezes. Destacou-se ainda pela tradução de autores como Antoine de Saint-Exupéry, Montesquieu, Jorge Luís Borges e Federico García Lorca. 
Em 2001, publica-se Todos os Poemas